quarta-feira, 25 de agosto de 2010

São Gonçalo do Amarante

     A Igreja de São Gonçalo do Amarante, localizada na região do antigo Sertão Carioca, atualmente a conhecida Jacarepaguá, foi construída em 1625 no Engenho do Camorim, por seu proprietário Gonçalo de Sá. Em 1667, sua filha Vitória de Sá doou a Igreja ao Mosteiro de São Bento. Brigas entre familiares de D. Vitória e a Igreja pela posse de terras foi uma das tramas que envolveram este engenho. De grande valor histórico e arquitetônico, é uma das mais antigas relíquias da zona rural do Rio de Janeiro.
     Nas primeiras décadas do século XVIII sofreu algumas modificações, a mais importante ocorrida entre 1795-1800, alterando seu volume e o espaço interno com a elevação do telhado da nave. No início do século XX, estando a igreja em ruínas, a arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro realizou uma ampla reforma e assumiu as atividades pastorais e religiosas. Em meados do século entrou em declínio, ficando fechada entre 1972 e 1990. No período de 1996 a 1999 foram executadas obras de restauração por iniciativa da comunidade, com a supervisão do Inepac – Instituto Estadual do Patrimônio Cultural/RJ.

SÃO GONÇALO DO AMARANTE
     Beato Gonçalo do Amarante foi um eclesiástico português que, segundo a lenda, teria a data de sua morte anunciada por Nossa Senhora para a qual se preparou com a recepção dos Sacramentos da Igreja. Não é canonizado, mas beatificado, ou seja, não é santo como muita gente acredita, mas sim beato.
     Segundo pesquisas, não há indícios de sua existência, mas uma quantidade de versões sobre sua vida. Nos basearemos para sua origem o livro História Eclesiástica de Portugal, que o coloca como falecido em 10 de janeiro de 1259, data da sua Festa, realizada ainda em alguns lugares do Brasil, principalmente no Norte – a conhecida Dança de São Gonçalo - além de padroeiro de cidades brasileiras.
     Seu vulto e culto marcam de forma indelével a Idade Média Portuguesa. O mais antigo documento que se refere a São Gonçalo é um testamento de 18 de maio de 1279, em que uma Maria Johannis lega seus bens à Igreja dita “de São Gonçalo de Amarante”.
     O seu culto é permitido desde 1551 pelo papa Júlio III e confirmado por Pio IV em 1561. Após a sua morte, passou a ser protetor do violeiros, remédio contra enchentes, além de casamenteiro. É também apontado como santo protetor das mulheres e dos casais apaixonados. Protege sempre os que amam. Ajuda as pessoas a encontrar a pessoa certa para amar e ser feliz por toda a vida.
     Tanto no Brasil como em Portugal as procissões a São Gonçalo são acompanhadas por rapazes e moças que desejam casar, carregando velas acessas, durante todo o percurso. Se a vela não apagar até o final da procissão, é certeza casar-se no mesmo ano.
     Em Portugal, a sua festa é realizada em Amarante, no dia 7 de junho e dedicam-lhe uma semana de festejos populares com procissões, bandas de música, folguedos etc.
     Na biografia oficial de São Gonçalo, apresentada como tal a partir do Flos Sanctorum de 1513, não há dúvidas: Gonçalo, nasceu em Tagilde, estudou rudimentos com um devoto sacerdote e frequentou depois a escola arqui-episcopal de Braga. Ordenado sacerdote foi nomeado pároco de São Paio de Vizela.
     Sua festa era celebrada no dia 16 de janeiro. Os Dominicanos a celebravam no dia de sua morte em 10 de janeiro. Com a unificação das festas dos santos em 1969/70, todos os santos tiveram suas festas celebradas no dia de sua morte - dia que se encontram com Jesus. Assim, a festa de São Gonçalo é sempre celebrada no dia 10 de janeiro.

Adriana Caetano
Pesquisadora/IHJa


sábado, 14 de agosto de 2010

O Engenho Novo

     A Baixada de Jacarepaguá guarda entre seus morros um valiosíssimo Patrimônio. Mas o que se entende por Patrimônio? Em sua origem, a palavra significava pertencimento, lembrança comum e coletiva, por isso precisava ser preservada. Quando se fala em Patrimônio, logo nos vem à mente a idéia de Patrimônio Arquitetônico, o que não deixa de ser verdade, porém, não existe apenas esta categoria de Patrimônio.
     Hoje, o termo é designado como Patrimônio cultural e engloba três categorias de elementos. Em primeiro lugar, engloba os elementos que pertencem à natureza, como, rios, mares, montanhas. A segunda categoria engloba os elementos referentes às técnicas encontradas pelo homem para poder viver em seu meio ambiente. A terceira se compõe de artefatos, objetos, obras, construções; criações advindas das mãos humanas.
     Neste breve artigo, o Patrimônio abordado se enquadra na terceira categoria, a que advém das construções das mãos humanas. O Núcleo Histórico Juliano Moreira, que abriga as ruínas do Engenho Novo da Taquara é uma obra de arte perdida na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
     Com seu acervo composto por aqueduto, igreja, capela, casa-grande, chafariz e bebedouro, é capaz de nos levar a voltar alguns séculos, adentrando de forma surpreendente a um antigo engenho de açúcar, farinha e fubá.
     A história deste engenho se inicia no dia 2 de janeiro de 1653, quando Tomé da Silva compra de D. Vitória de Sá, herdeira de Gonçalo de Sá, primeiro* proprietário das terras que correspondem hoje ao Camorim, Vargem Pequena, Vargem Grande, Recreio e Barra da Tijuca, uma gleba de terras. Após construir o engenho e nele trabalhar por cerca de quatro anos, Tomé da Silva requereu em 1664 ao Governador da cidade e capitania do Rio de janeiro Pedro de Melo, uma sesmaria ao fundo de sua fazenda para poder sustentar de lenha e cana o engenho. Seu processo foi deferido pelo Governador.
     Assim como outras terras da Baixada de Jacarepaguá, as terras que compunham o Engenho de Nossa Senhora dos Remédios tiveram vários donos. Após Tomé da Silva e sua esposa, as terras foram herdadas por seus filhos que, por conseguinte, as venderam para Claudio Gurgel do Amaral. Este proprietário, em 2 de abril de 1715 vendeu seu engenho já desfabricado para Antônio Teles de Menezes, que também havia adquirido as terras do Engenho de Dentro.
     Antônio Teles logo uniu as duas fazendas, passando a serem conhecidas como Fazenda da Taquara. As terras que compunham o antigo Engenho de Nossa Senhora dos Remédios faziam parte do Engenho da Taquara, como uma espécie de anexo.
     Na Relação do Marquês de Lavradio, no ano de 1778, consta que Francisco Teles Barreto de Menezes, filho de Antônio e herdeiro destas terras, levantou um engenho, o Engenho Novo da Taquara, que produzia cerca de 40 caixas de açúcar e 40 pipas de aguardente.
     O engenho que aparece na Relação não foi construído no mesmo local aonde existia o Engenho de Nossa Senhora dos Remédios e sim nas terras que Tomé da Silva pediu de sesmaria ao Governador Pedro.
     Quando Francisco morreu, suas terras do Engenho Novo foram herdadas por sua filha Catarina Teles e as terras do Engenho da Taquara foram herdadas por Ana Teles, esposa de João Ribeiro. Em 1809 Catarina se casou com Pascoal Reis e seu marido logo iniciou um processo contra sua irmã e seu marido por causa da divisão destas terras. As herdeiras, mesmo já viúvas, continuaram com o processo, que correu pleito por cerca de trinta anos.
     Somente no dia 30 de janeiro de 1839, os herdeiros das viúvas chegaram a um acordo de demarcação das terras. No ano anterior, Catarina Teles havia falecido e deixado um testamento para que os bens ficassem em comum. Seus herdeiros concluíam as obras do aqueduto e construíram a casa de residência da fazenda. Em 1862, os herdeiros deram início à construção da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, junto à casa da fazenda.
     Estes antigos proprietários não deixaram apenas seus nomes escritos nas páginas de livros e documentos referentes à formação nos diversos aspectos da cidade do Rio de Janeiro. Através de seu intermédio, nos deixaram um admirável conjunto arquitetônico pouco conhecido entre os moradores da cidade e da região, e assim como outros bens culturais, sofrem com o descaso das autoridades públicas em relação à sua preservação.
     Há pouco tempo, a Igreja de Nossa senhora dos Remédios passou por breve restauro realizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Entretanto, não apenas a igreja precisa de cuidados, os outros bens arquitetônicos também merecem atenção. São esses bens o Aqueduto dos Psicopatas, a capela e barbearia, o chafariz que, segundo relatos de moradores da região, também servia de bebedouro para os escravos, a senzala, o coreto, a casa da fazenda, enfim, diversos tesouros arqueológicos guardados a céu aberto nos muros que compõem o que hoje é a Colônia Juliano Moreira.
     Cabe ressaltar que não apenas monumentos herdados da época dos engenhos estão guardados entre esses muros. Muitas edificações erigidas em outras épocas, como o Pavilhão 1, construído em prol da Colônia, também são muito preciosos para a população que vive na cidade e nessas terras perdidas que formavam o antigo sertão carioca, hoje, zona oeste do Rio de Janeiro.

Heluana Macêdo
Pesquisadora IHJa