sábado, 14 de agosto de 2010

O Engenho Novo

     A Baixada de Jacarepaguá guarda entre seus morros um valiosíssimo Patrimônio. Mas o que se entende por Patrimônio? Em sua origem, a palavra significava pertencimento, lembrança comum e coletiva, por isso precisava ser preservada. Quando se fala em Patrimônio, logo nos vem à mente a idéia de Patrimônio Arquitetônico, o que não deixa de ser verdade, porém, não existe apenas esta categoria de Patrimônio.
     Hoje, o termo é designado como Patrimônio cultural e engloba três categorias de elementos. Em primeiro lugar, engloba os elementos que pertencem à natureza, como, rios, mares, montanhas. A segunda categoria engloba os elementos referentes às técnicas encontradas pelo homem para poder viver em seu meio ambiente. A terceira se compõe de artefatos, objetos, obras, construções; criações advindas das mãos humanas.
     Neste breve artigo, o Patrimônio abordado se enquadra na terceira categoria, a que advém das construções das mãos humanas. O Núcleo Histórico Juliano Moreira, que abriga as ruínas do Engenho Novo da Taquara é uma obra de arte perdida na zona oeste da cidade do Rio de Janeiro.
     Com seu acervo composto por aqueduto, igreja, capela, casa-grande, chafariz e bebedouro, é capaz de nos levar a voltar alguns séculos, adentrando de forma surpreendente a um antigo engenho de açúcar, farinha e fubá.
     A história deste engenho se inicia no dia 2 de janeiro de 1653, quando Tomé da Silva compra de D. Vitória de Sá, herdeira de Gonçalo de Sá, primeiro* proprietário das terras que correspondem hoje ao Camorim, Vargem Pequena, Vargem Grande, Recreio e Barra da Tijuca, uma gleba de terras. Após construir o engenho e nele trabalhar por cerca de quatro anos, Tomé da Silva requereu em 1664 ao Governador da cidade e capitania do Rio de janeiro Pedro de Melo, uma sesmaria ao fundo de sua fazenda para poder sustentar de lenha e cana o engenho. Seu processo foi deferido pelo Governador.
     Assim como outras terras da Baixada de Jacarepaguá, as terras que compunham o Engenho de Nossa Senhora dos Remédios tiveram vários donos. Após Tomé da Silva e sua esposa, as terras foram herdadas por seus filhos que, por conseguinte, as venderam para Claudio Gurgel do Amaral. Este proprietário, em 2 de abril de 1715 vendeu seu engenho já desfabricado para Antônio Teles de Menezes, que também havia adquirido as terras do Engenho de Dentro.
     Antônio Teles logo uniu as duas fazendas, passando a serem conhecidas como Fazenda da Taquara. As terras que compunham o antigo Engenho de Nossa Senhora dos Remédios faziam parte do Engenho da Taquara, como uma espécie de anexo.
     Na Relação do Marquês de Lavradio, no ano de 1778, consta que Francisco Teles Barreto de Menezes, filho de Antônio e herdeiro destas terras, levantou um engenho, o Engenho Novo da Taquara, que produzia cerca de 40 caixas de açúcar e 40 pipas de aguardente.
     O engenho que aparece na Relação não foi construído no mesmo local aonde existia o Engenho de Nossa Senhora dos Remédios e sim nas terras que Tomé da Silva pediu de sesmaria ao Governador Pedro.
     Quando Francisco morreu, suas terras do Engenho Novo foram herdadas por sua filha Catarina Teles e as terras do Engenho da Taquara foram herdadas por Ana Teles, esposa de João Ribeiro. Em 1809 Catarina se casou com Pascoal Reis e seu marido logo iniciou um processo contra sua irmã e seu marido por causa da divisão destas terras. As herdeiras, mesmo já viúvas, continuaram com o processo, que correu pleito por cerca de trinta anos.
     Somente no dia 30 de janeiro de 1839, os herdeiros das viúvas chegaram a um acordo de demarcação das terras. No ano anterior, Catarina Teles havia falecido e deixado um testamento para que os bens ficassem em comum. Seus herdeiros concluíam as obras do aqueduto e construíram a casa de residência da fazenda. Em 1862, os herdeiros deram início à construção da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, junto à casa da fazenda.
     Estes antigos proprietários não deixaram apenas seus nomes escritos nas páginas de livros e documentos referentes à formação nos diversos aspectos da cidade do Rio de Janeiro. Através de seu intermédio, nos deixaram um admirável conjunto arquitetônico pouco conhecido entre os moradores da cidade e da região, e assim como outros bens culturais, sofrem com o descaso das autoridades públicas em relação à sua preservação.
     Há pouco tempo, a Igreja de Nossa senhora dos Remédios passou por breve restauro realizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro. Entretanto, não apenas a igreja precisa de cuidados, os outros bens arquitetônicos também merecem atenção. São esses bens o Aqueduto dos Psicopatas, a capela e barbearia, o chafariz que, segundo relatos de moradores da região, também servia de bebedouro para os escravos, a senzala, o coreto, a casa da fazenda, enfim, diversos tesouros arqueológicos guardados a céu aberto nos muros que compõem o que hoje é a Colônia Juliano Moreira.
     Cabe ressaltar que não apenas monumentos herdados da época dos engenhos estão guardados entre esses muros. Muitas edificações erigidas em outras épocas, como o Pavilhão 1, construído em prol da Colônia, também são muito preciosos para a população que vive na cidade e nessas terras perdidas que formavam o antigo sertão carioca, hoje, zona oeste do Rio de Janeiro.

Heluana Macêdo
Pesquisadora IHJa

















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