sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Por que se chama Carioca a quem nasce no Rio de Janeiro?

    
      Em amor à cidade que moramos e estudamos hoje o artigo de nosso blog é destinado a explicar a origem da palavra CARIOCA, origem imortalizada nos escritos de Magalhães Corrêa, cidadão carioca do início do século XX e amante da cidade do Rio de Janeiro, principalmente de seu sertão.
     Este artigo respeita as normas ortográficas de 1929, ano em que foi publicado no Jornal Correio da Manhã de 10 de março e no dia 18 de setembro de 2010, fez parte da Exposição Magalhães Corrêa – 125 anos de sertão carioca - em homenagem aos 416 anos da Baixada de Jacarepaguá.
     Um aviso ao povo carioca e aos demais cidadãos deste país: mesmo com a violência que assola nossa cidade, o Rio de Janeiro continua lindo...


Porque se chama Carioca a quem nasce na Capital Federal.
Magalhães Corrêa
(1885-1944)

     Sem autoridade, talvez para discutir assunto tão debatido, venho com a minha contribuição, como filho desta terra, lembrar aos estudiosos dessa especialidade a minha convicção.
     Duvidas ha ainda muitas sobre o verdadeiro descobridor do Brasil, o verdadeiro proclamador da Republica e sobre a origem do nome carioca.
     O Rio Carioca, modesto, mas notavel pelas suas cristalinas e encantadoras aguas é assistido no seu nascimento pelas Naiades, que lhe deram o dom de a sua linfa suavisar as vozes, aformosear os semblantes e atrair os forasteiros ás belezas naturais de sua redondeza. O Rio Carioca brota na serra da Carioca, na majestosa floresta das
     Paineiras, e que, serpenteando e batendo entres seixos, vem, sempre atravez do Cosme Velho, Laranjeiras e Catete, apertado em seu leito entre rochas, desaguar na praia do
     Flamengo, no seio da Guanabara, tomando as diversas denominações de Lavadeiras, Caboclo, Laranjeira e Catete, predominando, no entanto, sempre, o de Carioca.
     Teve seu curso desviado para abastecer a cidade, atravessando então Santa Tereza, ligando-se ao morro de Santo Antonio, pelo Aqueduto, honra do governo de Gomes Freire de Andrada, e terminando no Chafariz do Largo da Carioca que infelizmente o prefeito Alaor Prata demoliu para o embelezamento da cidade – A fonte origem dos cariocas. Von Martius, Varnhagen, monsenhor Pizarro, Lery e tantos outros estudaram a sua origem.
     Para uns e outros – etimologicamente significativa; um dia, pela manhã primaveril de outubro, fui ao encontro do professor Roquette-Pinto, em seu gabinete de trabalho, na secção de Etnografia do Museu Nacional. Lá estava ele entregue aos seus estudos; interrompi-o por um instante.
     - Bom dia, dr! estou preocupado com a origem do nome Carioca: acha que a sua etimologia representa a verdade?
     - Não! Tens razão, Armando; li ainda ha pouco o “Jornal do Brasil”, e nos Episódios da H. do Brasil por A. Kreisler, encontrei um mapa antigo do Rio de Janeiro, que traz o nome do Rio Acarioca. Ovo de Colombo, rapido como o radio, passaram os nomes de Guacari, Wacari, Acari e Cari – peixe dagua doce – cascudo.
     Comecei a estudar o caso. O mapa de A. Kreisler em que aparece Acarioca é o mesmo, com pequenas modificações, do “Mapa anterior a 1600” do “O Rio de Janeiro, em 1922”, por Ferreira da Rosa; ahi tambem está Acarioca, sendo estes mapas os documentos mais antigos dessa época historica, preciosos para o nosso trabalho. Assim podemos proseguir na etimologia do nome.
     Nos “Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro” – volume 7-8179.80 – Vocabulario das palavras guaranis usadas pelo tradutor da Conquista Espiritual, padre A. Ruiz de Montagu, aparece Guacari – peixe – guag, pintado ou côr, escama.
     No tomo XIII – Museu Paulista, vocabulario tupi, pelo dr. Constancio Tostevin,Wacary – peixe cascudo. Loricaria plecostomus. No “O Tupi na Geografia Nacional” de Theodoro Sampaio, Acary – peixe dagua doce, vulgo Cari, (Locaria plecostomus), de fórma que temos todas as variantes do Cari.
     Em conversa com o professor Miranda Ribeiro, expuz o assunto que me interessava, sobre o Cari e prontamente me deu verdadeira lição sobre sua vida e seus habitos, assegurando a sua existencia em todo o Brasil. E achou a etimologia da palavra carioca mais que racional.
     - Encontrei tambem em diversos historiadores, falando do cascudo, que era habito dos habitantes selvicolas do Rio, comerem e apreciarem um peixe cascudo, muito comum nestas paragens. Assim o Cari habitante de rio pedregoso, e sendo o Carioca o único topograficamente no Distrito Federeal, nestas condições, razão ha para justificar o nome de “paradeiro dos Acaris” – Carioca.
     No “O Tupi na Geografia Nacional” de Theodoro Sampaio, os sufixos na composição dos vocabulos Tupi, aparece – Oca – oga suf. tapando, a cobertura, o abrigo, o refugio, o covil, o esconderijo, o paradeiro, a casa.
     Assim de posse do nome Carioca é bastante deduzir-se Cari – peixe cascudo. Oca-casa, reduto-paradeiro. Reduto, casa dos Acaris.
     É bom lembrar que os indios brasileiros tinham o habito de designarem as coisas com nomes de animais. Assim, damos uma relação de nomes que etimologicamente demonstram a nossa conviccção.

Boturoca – morada do vento.
Burici-oca – paradeiro dos macacaos (buriguis).
Biboca – casa de terra (barro).
Bertioga – paradeiro das tainhas, S. Paulo, Ilha Santo Amaro
Gijoca – paradeiro das râs. Lagôa do Ceará.
Juruoca – esconderijo dos papagaios.
Maloca – rancho dos indios.
Meruoca – paradeiro das Moscas, Ceará.
Mooca – fazer casa.
Oca-una – casa negra.
Pridoca – refugio de preás.
Tatuoca – covil de tatú.
Toca – esconderijo.
Tupanaroca – casa de Deus.
Tyjioca – paradeiro das espumas.
Uruoca – esconderijo dos Urús.

     Do exposto vê-se que não é um sonho a origem do Carioca, etimologicamente é racional.
     Historiando, vê-se de principio que o primeiro habitante europeu, Gonçalo Coelho, desembarcou na foz do Rio Carioca, e aí passou de dois a tres anos com seus companheiros. E, naturalmente, os indios denominarem de Acaris, guerreiros encoraçados, (por terem semelhança com o cascudo) o local Carioca – casa dos Acaris.
     Estes habitantes do Flamengo construíram mais tarde a primeira casa de pedra do Rio de Janeiro – outra razão mais forte ainda, pois este fato interessante é mais uma prova de que sendo os Acaris, habitantes de toca, vivendo entre pedras e os portugueses pro coinciedencia providencial fizeram a sua primeira casa de pedra junto á foz do Carioca. É ainda curioso o serem estes primeiros habitantes denominados na época colonial de cascudos, perdendo essa denominação para os conservadores, pro imposição dos liberais. A este respeito, o dr. Raimundo Lopes lembrou-me que num trecho do Perú et Bolivie de Ch. Wiener lera que os indios do antigo Imperio dos Incas davam o nome de lagosta aos conquistadores hespanhoes, em virtude de suas couraças.

GLOSSÁRIO

Etimologia – Estudo da origem das palavras;
Etnografia – Estudo descritivo de um ou mais
aspectos sociais e culturais de um povo,
grupo social, etc
Linfa – poét. Água;
Náiade – Divindade mitológica, inferior,
ninfa dos rios e das fontes;

Fontes:

- Revista Nacional de Educação Ano I, n° 5. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saude Publica/ Museu Nacional Rio de Janeiro, 1933.

- HOLANDA, Aurélio Buarque de. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975;

Adriana Caetano
Heluana Macêdo
IHJa

2 comentários:

Noph disse...

È como a luz que clareando,o horizonte furta a triste sombra da nossa realidade.Que dias melhores virão,contribuir para este novo amanhecer é fundamental.Que a nossa velha baixada nos traga, novas descorbertas.Para um RIO muito mais Carioca!

Noph disse...

E como a luz nas denças trevas,no horizonte da realidade taciturna do Rio que vivemos.Que o grupo de estudo da baixada de jacarepaguá,continue no exercicío continuo cabal.A desbravar nossa memória secular riquissima, esquecida pelo intríncico mosaico do tempo.Cabe ao Ihja desbravar a ventura benévola,dos Sertões Carioca.Que a pena transcreva as verdades,esquecidas ou tenha o privilégio de apenas recorda-las.Que a tinta fresca seque ainda na mão da terna infância, para que a semente do conhecimento cresça ao longo da maturidade.E que somos agentes ativos no linear processo histórico e que a velha história de JPA é e será de todos nós! Por que temos a edílica esperança como educadores de ajudar a construir um amanhecer ainda melhor.
Um Rio cada vez mais carioca!