sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Atividades Grupo de Estudos

     Em breve retomaremos nossas atividades. Para mais informações sobre Jacarepaguá, entre em contato,
     teremos o imenso prazer em ajudar. O nosso e-mail é museuihja@gmail.com
     Obrigada pelo interesse de todos, a nossa querida região agradece.
     Heluana Macêdo

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Sistema educacional brasileiro – uma análise micro-histórica.

Ano novo, novo ano letivo. Período de matriculas, lojas cheias em busca de material escolar e livros. Todo ano é sempre essa mesma cena, e os alunos – nossos filhos, netos, sobrinhos – entusiasmados a iniciarem o novo ano letivo para contar aos seus amigos como foram as férias e o que fizeram. Apesar de todas as mazelas conhecidas do ensino brasileiro, alguns retrocessos e avanços foram notados. O abandono do sistema de aprovação automática (quem tem filho estudando no município sabe do que estou falando), que a nosso ver é um crime hediondo que acaba por desqualificar ainda mais a nossa educação, foi uma das melhores coisas que pudemos presenciar, nós professores, nestes últimos dois anos.

Não é nossa intenção discorrer aqui sobre os retrocessos e os avanços da educação básica brasileira, que é mais conhecida que a própria história do ensino brasileiro, e sim descrever como era a rotina de um estudante morador de Jacarepaguá do inicio do século passado.

Magalhães Corrêa em sua obra Sertão Carioca trás uma passagem do cotidiano de um estudante de escola municipal nos anos de 1930. Esta obra é bastante importante para quem deseja conhecer Jacarepaguá em outro momento histórico. Nele o autor apresenta uma descrição detalhada de suas pessoas, de sua fauna e flora, lugares que hoje não são mais vistos. Um Jacarepaguá rural, bem diferente da selva de pedra atual.

Reproduziremos a passagem respeitando a ortografia da época. Um fragmento de documento que poderá ser utilizada por diversas maneiras, principalmente para refletirmos o que realmente mudou no ensino da região, como do país.

“Neste pequeno sítio reside o tamanqueiro com sua mulher, que tece esteiras nas horas vagas; lá a encontrei no tendal; o casal tem um garoto que vae á escola municipal, situada á Estrada da Taquara, a quatro kilometros de distancia, pelas estradas sem arborização e sem abrigo das chuvas ou sol. Assim mesmo, existe esta escola por ter sido lembrada e creada por iniciativa do inspecto escolar Dr. Durval Ribeiro de Pinho, quando dirigia o 23º Districto, tomando a denominação de 1ª feminina e depois, 8ª mixta, o qual também creou a escola de Vargem Pequena, 7ª mixta.

A população escolar dessa zona é obrigada a percorrer kilometros ao sol ou á chuva, sendo a distancia entre ellas de oito kilometros. Si os paes quizerem que seus filhos aprendam a ler, com o regimem actual, quando nenhum material é fornecido aos nossos gurys, terão a multa de 50$000 a 200$000 se estes faltarem mais de tres vezes! Isto prova que os nossos dirigentes da Instrução Publica, quando não são leigos, são verdadeiros provincianos, não conhecem os usos e costumes e a psychologia dessa população rural. O programma de ensino é o mesmo que o do centro da capital da Republica!”

O que podemos verificar no trecho acima é a dificuldade de transporte para os alunos em 1930. Devemos lembrar que não existia gratuidade nesta época e o material escolar não era oferecido pelo governo, bem diferente dos dias atuais. Outra situação interessante é a que o autor se refere no caso da construção das escolas na região. Mostra um descaso que é visto nos dias de hoje, não em relação à construção de escolas, mas ao descaso que o ensino vive atualmente, constituindo uma prática contínua através dos tempos.

Escola mista como se refere Magalhães Corrêa era a forma que a escola era dividida. No século XIX e inicio do século XX as escolas eram separadas por sexo e suas aulas também estavam voltadas para as práticas de cada gênero dentro da sociedade brasileira. Resumindo, as meninas aprendiam os afazeres domésticos e como ser uma boa esposa e mãe, ao passo dos meninos serem voltados ao exercício de alguma profissão. Não é um ensino profissionalizante como conhecemos hoje, mas apenas colocar cada pessoa em “seu devido lugar” na sociedade. Nas escolas mistas, ambos os sexos estavam agora dividindo a mesma sala de aula, podendo receber os mesmos ensinamentos.

Mas o mais interessante desta passagem era a multa aplicada aos pais dessas crianças. Caso faltassem por mais de três dias sem justificativa, os responsáveis eram multados em quantias bem desproporcionais aos ganhos dos jacarepaguenses do inicio do século passado, que viviam basicamente de ofícios artesanais, retirando da floresta sua subsistência. Algo que para Magalhães Corrêa não era justo ser cobrados dos sertanejos cariocas devidos as suas condições de vida. Apregoava Magalhães Corrêa um ensino que estivesse de acordo com a realidade existente nesta região.

Esses artigos escritos para o Correio da Manhã e que originaram o livro Sertão Carioca foram uma forma de alerta às autoridades para questões sociais que se faziam necessárias à região na qual se pretendia “amansar”. O relato que retratou o cotidiano de um estudante em Jacarepaguá de 1930 é o retrato de um sistema educacional que vigorou no Brasil por diversos anos, ou mesmo ainda presente em lugares da própria região que décadas atrás foi batizada de sertão carioca.



Desejamos um feliz 2011 para a Educação. Está mais que na hora dela receber a devida atenção por parte dos responsáveis e não mais um punhado de medidas irrelevantes como a proibição – que não chegou a ser efetivada para o bem da literatura – dos contos de Monteiro Lobato.

Feliz 2011!

Adriana Caetano – Pesquisadora IHJA

Fonte: CORRÊA, A.M. O Sertão Carioca. Rio de Janeiro; Imprensa Nacional, 1936, pg. 114;

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Por que se chama Carioca a quem nasce no Rio de Janeiro?

    
      Em amor à cidade que moramos e estudamos hoje o artigo de nosso blog é destinado a explicar a origem da palavra CARIOCA, origem imortalizada nos escritos de Magalhães Corrêa, cidadão carioca do início do século XX e amante da cidade do Rio de Janeiro, principalmente de seu sertão.
     Este artigo respeita as normas ortográficas de 1929, ano em que foi publicado no Jornal Correio da Manhã de 10 de março e no dia 18 de setembro de 2010, fez parte da Exposição Magalhães Corrêa – 125 anos de sertão carioca - em homenagem aos 416 anos da Baixada de Jacarepaguá.
     Um aviso ao povo carioca e aos demais cidadãos deste país: mesmo com a violência que assola nossa cidade, o Rio de Janeiro continua lindo...


Porque se chama Carioca a quem nasce na Capital Federal.
Magalhães Corrêa
(1885-1944)

     Sem autoridade, talvez para discutir assunto tão debatido, venho com a minha contribuição, como filho desta terra, lembrar aos estudiosos dessa especialidade a minha convicção.
     Duvidas ha ainda muitas sobre o verdadeiro descobridor do Brasil, o verdadeiro proclamador da Republica e sobre a origem do nome carioca.
     O Rio Carioca, modesto, mas notavel pelas suas cristalinas e encantadoras aguas é assistido no seu nascimento pelas Naiades, que lhe deram o dom de a sua linfa suavisar as vozes, aformosear os semblantes e atrair os forasteiros ás belezas naturais de sua redondeza. O Rio Carioca brota na serra da Carioca, na majestosa floresta das
     Paineiras, e que, serpenteando e batendo entres seixos, vem, sempre atravez do Cosme Velho, Laranjeiras e Catete, apertado em seu leito entre rochas, desaguar na praia do
     Flamengo, no seio da Guanabara, tomando as diversas denominações de Lavadeiras, Caboclo, Laranjeira e Catete, predominando, no entanto, sempre, o de Carioca.
     Teve seu curso desviado para abastecer a cidade, atravessando então Santa Tereza, ligando-se ao morro de Santo Antonio, pelo Aqueduto, honra do governo de Gomes Freire de Andrada, e terminando no Chafariz do Largo da Carioca que infelizmente o prefeito Alaor Prata demoliu para o embelezamento da cidade – A fonte origem dos cariocas. Von Martius, Varnhagen, monsenhor Pizarro, Lery e tantos outros estudaram a sua origem.
     Para uns e outros – etimologicamente significativa; um dia, pela manhã primaveril de outubro, fui ao encontro do professor Roquette-Pinto, em seu gabinete de trabalho, na secção de Etnografia do Museu Nacional. Lá estava ele entregue aos seus estudos; interrompi-o por um instante.
     - Bom dia, dr! estou preocupado com a origem do nome Carioca: acha que a sua etimologia representa a verdade?
     - Não! Tens razão, Armando; li ainda ha pouco o “Jornal do Brasil”, e nos Episódios da H. do Brasil por A. Kreisler, encontrei um mapa antigo do Rio de Janeiro, que traz o nome do Rio Acarioca. Ovo de Colombo, rapido como o radio, passaram os nomes de Guacari, Wacari, Acari e Cari – peixe dagua doce – cascudo.
     Comecei a estudar o caso. O mapa de A. Kreisler em que aparece Acarioca é o mesmo, com pequenas modificações, do “Mapa anterior a 1600” do “O Rio de Janeiro, em 1922”, por Ferreira da Rosa; ahi tambem está Acarioca, sendo estes mapas os documentos mais antigos dessa época historica, preciosos para o nosso trabalho. Assim podemos proseguir na etimologia do nome.
     Nos “Anais da Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro” – volume 7-8179.80 – Vocabulario das palavras guaranis usadas pelo tradutor da Conquista Espiritual, padre A. Ruiz de Montagu, aparece Guacari – peixe – guag, pintado ou côr, escama.
     No tomo XIII – Museu Paulista, vocabulario tupi, pelo dr. Constancio Tostevin,Wacary – peixe cascudo. Loricaria plecostomus. No “O Tupi na Geografia Nacional” de Theodoro Sampaio, Acary – peixe dagua doce, vulgo Cari, (Locaria plecostomus), de fórma que temos todas as variantes do Cari.
     Em conversa com o professor Miranda Ribeiro, expuz o assunto que me interessava, sobre o Cari e prontamente me deu verdadeira lição sobre sua vida e seus habitos, assegurando a sua existencia em todo o Brasil. E achou a etimologia da palavra carioca mais que racional.
     - Encontrei tambem em diversos historiadores, falando do cascudo, que era habito dos habitantes selvicolas do Rio, comerem e apreciarem um peixe cascudo, muito comum nestas paragens. Assim o Cari habitante de rio pedregoso, e sendo o Carioca o único topograficamente no Distrito Federeal, nestas condições, razão ha para justificar o nome de “paradeiro dos Acaris” – Carioca.
     No “O Tupi na Geografia Nacional” de Theodoro Sampaio, os sufixos na composição dos vocabulos Tupi, aparece – Oca – oga suf. tapando, a cobertura, o abrigo, o refugio, o covil, o esconderijo, o paradeiro, a casa.
     Assim de posse do nome Carioca é bastante deduzir-se Cari – peixe cascudo. Oca-casa, reduto-paradeiro. Reduto, casa dos Acaris.
     É bom lembrar que os indios brasileiros tinham o habito de designarem as coisas com nomes de animais. Assim, damos uma relação de nomes que etimologicamente demonstram a nossa conviccção.

Boturoca – morada do vento.
Burici-oca – paradeiro dos macacaos (buriguis).
Biboca – casa de terra (barro).
Bertioga – paradeiro das tainhas, S. Paulo, Ilha Santo Amaro
Gijoca – paradeiro das râs. Lagôa do Ceará.
Juruoca – esconderijo dos papagaios.
Maloca – rancho dos indios.
Meruoca – paradeiro das Moscas, Ceará.
Mooca – fazer casa.
Oca-una – casa negra.
Pridoca – refugio de preás.
Tatuoca – covil de tatú.
Toca – esconderijo.
Tupanaroca – casa de Deus.
Tyjioca – paradeiro das espumas.
Uruoca – esconderijo dos Urús.

     Do exposto vê-se que não é um sonho a origem do Carioca, etimologicamente é racional.
     Historiando, vê-se de principio que o primeiro habitante europeu, Gonçalo Coelho, desembarcou na foz do Rio Carioca, e aí passou de dois a tres anos com seus companheiros. E, naturalmente, os indios denominarem de Acaris, guerreiros encoraçados, (por terem semelhança com o cascudo) o local Carioca – casa dos Acaris.
     Estes habitantes do Flamengo construíram mais tarde a primeira casa de pedra do Rio de Janeiro – outra razão mais forte ainda, pois este fato interessante é mais uma prova de que sendo os Acaris, habitantes de toca, vivendo entre pedras e os portugueses pro coinciedencia providencial fizeram a sua primeira casa de pedra junto á foz do Carioca. É ainda curioso o serem estes primeiros habitantes denominados na época colonial de cascudos, perdendo essa denominação para os conservadores, pro imposição dos liberais. A este respeito, o dr. Raimundo Lopes lembrou-me que num trecho do Perú et Bolivie de Ch. Wiener lera que os indios do antigo Imperio dos Incas davam o nome de lagosta aos conquistadores hespanhoes, em virtude de suas couraças.

GLOSSÁRIO

Etimologia – Estudo da origem das palavras;
Etnografia – Estudo descritivo de um ou mais
aspectos sociais e culturais de um povo,
grupo social, etc
Linfa – poét. Água;
Náiade – Divindade mitológica, inferior,
ninfa dos rios e das fontes;

Fontes:

- Revista Nacional de Educação Ano I, n° 5. Rio de Janeiro: Ministério da Educação e Saude Publica/ Museu Nacional Rio de Janeiro, 1933.

- HOLANDA, Aurélio Buarque de. Novo Dicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1975;

Adriana Caetano
Heluana Macêdo
IHJa

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

O Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá

      Casa grande de Vitória de Sá. Pena de Magalhães Corrêa em seu livro O Sertão Carioca, 1936. Hoje esta casa é uma pensão e não    preserva mais sua arquitetura original


     O IHJa – Instituto Histórico da Baixada de Jacarepaguá – é uma instituição sem fins lucrativos fundada em 2007 com o intuito de salvaguardar a História, a Memória e o Patrimônio da Baixada de Jacarepaguá, rica em patrimônio natural e arquitetônico pouco conhecido pelos moradores da região e da cidade do Rio de Janeiro.
     A importância desse patrimônio é grande, e a nossa missão é levar ao conhecimento do público a importância de se preservá-lo.
     A Baixada de Jacarepaguá vem sofrendo transformações ao longo dos anos devido a valorização do seu solo por infinitos motivos, um deles, pelo menos ao que nos parece, está relacionado ao alto índice de criminalidade que acontece na cidade; as pessoas cada vez mais migram para a região em busca de calma e por que não, em busca de espaço; ainda se encontra na região uma infinidade de terrenos e conjuntos habitacionais ávidos por compradores. Quem lucra com isso tudo é a especulação imobiliária e quem perde é a população, que vê grande parte de seu patrimônio natural se transformando em casas e condomínios de luxo.
     A população precisa ter conhecimento de sua história e precisa ter o entendimento de que é essencial preservar seu patrimônio e infelizmente o que vemos é que as pessoas além de não se identificarem com o patrimônio o desprezam e não o tem como seu; pensam que a responsabilidade de sua preservação é dos órgãos governamentais.
     Entretanto, até mesmo os órgãos governamentais para preservá-los precisam das denúncias da sociedade civil e esta por não pensar que o patrimônio o pertence, o desconsidera e assim temos todos os dias na cidade prédios centenários sendo derrubados para darem lugar a lindos arranha céus, afinal de contas, pra que serve um prédio velho ocupando um terreno tão valioso?
     Há pouco tempo vimos isso acontecer na Baixada de Jacarepaguá, no bairro do Camorim. A região durante o período colonial brasileiro (séculos XVI, XVII e XVIII) foi palco de diversos engenhos de açúcar e a região do Camorim abrigava o engenho de Vitória de Sá, que os doou aos beneditinos.
     As Fazendas do Camorim e das Vargens foi a maior arrecadação de fundos do Mosteiro e só para pontuar, essas fazendas eram as maiores fornecedoras de carne bovina fresca da cidade do Rio de Janeiro. Por essa afirmação, será que se faz importante preservar as antigas instalações dessas fazendas?
     Temos de pé a Igreja de São Gonçalo do Amarante e a Igreja de Montesserrat mas, a casa grande da fazenda foi destruída, dando lugar a uma espécie de pensão e a sua arquitetura fora totalmente descaracterizada; os troncos para castigo dos escravos que se encontravam nessa casa grande foram queimados e as algemas e ferros vendidos para o ferro velho.
     Era importante a conservação desse bem da região de Jacarepaguá? Sim, era muito importante, mas virou sucata sem o conhecimento da população. Contudo, a população não pode ser responsabilizada; ela não sabia que aquilo era um patrimônio...
     Essa passagem foi apenas para ilustrar a importância de se ter uma educação patrimonial na região e para isso o IHJa surgiu com o intuito de preservar nossa História e de levar à população o seu conhecimento.
     A especulação imobiliária, além dos problemas à terra traz à ela outro grande problema: os novos moradores não tem apreço pelo solo, só o enxergam como bem rentável, que a qualquer momento pode valorizar mais e ser vendido por um bom preço.
     
     Gostaríamos também de apelar à população para nos ajudar a formar o nosso centro de memória, ou nosso museu e contamos com o apoio popular para formar nosso acervo que será em prol da população. Quem tiver alguma fotografia antiga, algum objeto, algum trabalho de arte, enfim, algum objeto, documento, livro, fotografia e etc, que sirva para preservar a História e a Memória de nossa região, entre em contato conosco pelo e-mail museuihja@gmail.com ou pelo telefone (21) 9501-4685 (Heluana Macêdo).
    
     O Grupo de Estudos é formado por professores de História e Geografia, assim como também temos em nosso grupo a presença de geógrafos e historiadores preocupados em levar aos moradores da cidade e da região cultura, lazer e educação, principalmente uma educação voltada para a preservação de nosso maior bem, o nosso patrimônio natural e arquitetônico.
     Estamos totalmente abertos à população e quem tiver interesse em divulgar seus trabalhos, em qualquer área, que tenha como “pano de fundo” a Baixada de Jacarepaguá, contate-nos.
     Esperamos que se identifiquem com o nosso trabalho. A equipe do IHJa é formada pelos seguintes membros:

               Adriana Caetano (pesquisas e coordenação de estudos da região);

               Elaine Jansen (produção cultural e coordenação de projetos);

               Heluana Macêdo (pesquisadora; coordenação geral do Instituto);

               Jovian Vianna (colaborador das atividades do IHJa);

               Luíz Nicácio (pesquisador e elaboração de projetos de educação ambiental);

               Pedro Chaves (pesquisador; secretaria do Instituto e elaboração de projetos educacionais);

             Valdeir Costa (pesquisador; elaboração de oficinas voltadas ao público do ensino fundamental).



Heluana Macêdo
Pesquisadora/IHJa

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Os escravos do Camorim

                                       


                                  
  
O Cemitério da Igreja de São Gonçalo do Amarante – uma análise social


            Em um tempo em que os enterros eram feitos em cortejos pela vizinhança do morto não haviam cemitérios como conhecidos atualmente – eles só surgem da necessidade de enterrar as vítimas das epidemias que aconteceram em meados do século XX  -  os sepultamentos eram feitos nas terras das igrejas, incluindo o seu altar e interior das mesmas, como o exemplo da sepultura de Estácio de Sá a frente do altar principal da Igreja dos Capuchinhos, na Tijuca. E essa prática não foi adversa com relação à Igreja de São Gonçalo do Amarante, em Camorim.
            Segundo pesquisas, havia uma separação social no momento do enterro. Os mais abastados, os mais importantes indivíduos e os mais poderosos eram enterrados no interior da capela, ao passo dos escravos serem enterrados a frente da Igreja. Com isso, separavam-se os homens importantes do restante da população. Eles queriam ficar mais próximos de Deus, por isso a sua proximidade aos altares. Os menos favorecidos, de pouca importância social e os escravos eram sepultados a parte, fora do espaço da capela, geralmente no entorno da Igreja. Os escravos que trabalhavam no engenho eram sepultados a frente da mesma. A separação social era vista também nos sepultamentos, o que para o pensamento da época era algo aceitável e profundamente praticado por toda a sociedade.
            Vivemos hoje em uma sociedade que abomina práticas preconceituosas, mas antes de apontarmos situações racistas nestas práticas, devemos compreender o pensamento existente na época. O escravo era considerado mercadoria, bem material, algo próximo de objeto ou ferramenta de trabalho. Ele só se tornava pessoa quando respondia por algum ato criminal. Era um período de grandes dificuldades de sociabilização, a começar com a prática dos senhores de engenho em comprar escravos de diferentes lugares da África, a fim de evitarem sublevações por parte dos cativos.
            Em uma sociedade que tem como fator de divisão o seu poderio econômico, senhores e escravos tinham seu espaço geográfico delimitado, onde um não poderia ultrapassar ou invadir o espaço do outro. O distanciamento social se dava também no espaço físico, representando o locus social de cada indivíduo inserido na sociedade colonial e escravista. Senhores de engenhos que tratavam os seus escravos de forma diferente que os impostos padrões sociais da época eram vistos com ressalvas e alvo de críticas pelos seus iguais.
            O sagrado e o profano eram também formas de separação. O que fosse divino era pertencente aos “homens bons”, aos importantes cristãos do período colonial. O profano caberia a todos os outros que não se inseriam no lugar social – pobres e cativos. Devido a essa forma de pensamento, a divisão nos sepultamentos era aceitável e obedecida sem problemas pela sociedade. Além de ser homem bom ou escravo, ambos deveriam ser cristãos acima de tudo. Se não fossem não seriam enterrados em terras sagradas. O medo de ser excomungado em uma sociedade colonial era o mesmo que perder o seu status social.
            As ossadas encontradas no momento da escavação do entorno da Igreja do Camorim, seguindo as normas sociais praticadas, eram de escravos convertidos. Pesquisas apontam que havia um pequeno número de cativos cuidados pelos monges, recebendo destes os mesmos tratamentos e rações que os religiosos. Os demais se sustentavam com os produtos retirados de suas plantações de subsistência, o que podemos apontar com nenhuma ressalva que os monges doavam pequenas porções de terras para os escravos produzirem para o seu sustento. Isso explica em muito a história das práticas econômicas nas terras de Jacarepaguá vistas por Magalhães Corrêa em seu livro “O Sertão Carioca”.

Fonte: ENGEMANN, Carlos. As Marcas das Mãos in As Marcas do Homem na Floresta – História Ambiental de um trecho urbano de mata atlântica/organização: Rogério Ribeiro de Oliveira. Rio de Janeiro: Ed. PUC-Rio, 2010.

Adriana Caetano
Pesquisadora/IHJa

segunda-feira, 4 de outubro de 2010

O Busto ao Barão da Taquara - Praça Seca

Outros patrimônios...
     Sabe-se que Jacarepaguá guarda entre suas montanhas valioso conjunto arquitetônico de tempos coloniais. Mas, a região não abriga apenas esses patrimônios. Tem-se uma série de outros monumentos, como esculturas, chafarizes, coretos, bustos, etc.
     Nesta postagem trataremos do Busto do Barão da Taquara, modelado em bronze e que se encontra na praça central da Praça Seca. O Busto foi colocado no local após cerimônia de honras ao centenário do nascimento Barão da Taquara, realizada pela Irmandade da Penna no ano de 1939.

O BARÃO DA TAQUARA
     Em 25 de outubro de 1839 nasceu na fazenda da Taquara Francisco Pinto da Fonseca Telles, o futuro Barão da Taquara. Seus pais eram Ana Maria Telles de Menezes e Francisco Pinto da Fonseca e sua família foi muito bem quista pela família imperial; D. Pedro II o consagrou  sendo-lhe padrinho de bastismo.
     Desde menino era assíduo freqüentador do palácio imperial da Quinta da Boa Vista, pois além de afilhado do imperador, seu pai fora guarda-roupa mór de Dom Pedro II. O carinho da família imperial era grande para com o futuro barão por ser órfão de mãe desde um ano de idade. O Imperador Dom Pedro II, acompanhado da imperatriz Dona Teresa Cristina, quando podiam, visitavam a Fazenda da Taquara, onde morava Francisco Telles.
     Primeiro e único Barão de Taquara, foi proprietário rural e filantropo brasileiro. Um dos grandes propugnadores do programa de expansão de Jacarepaguá, fundador da primeira escola na região, autor de obras de assistência social e de obras públicas, foi cognominado "o Patriarca de Jacarepaguá". Em 1882, o Imperador Pedro II lhe outorgou o título de Barão.
     No ano de 1865, durante a Guerra da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e Uruguai), popularmente conhecida como Guerra do Paraguai, Francisco Telles, antes de se tornar barão, foi comandante do Sétimo Batalhão de Infantaria. No conflito, Brasil e demais países da aliança derrotaram o Paraguai em 1870, pondo fim à guerra.
     Francisco Telles, o Barão da Taquara, foi muito querido na região. Alguns* relatos antigos citavam que o barão fora muito bom com seus escravos, sendo até comum vê-lo com crianças (filhas de escravos), ao colo. Este caráter carismático foi percebido após encontrar essas duas notícias sobre o centenário do Barão da Taquara nos arquivos do Jornal do Comércio. Nelas se encontram as diversas homenagens que foram em 25 de outubro de 1939, inclusive, a origem do busto à ele edificado. Só para lembrar, as transcrições se encontram na mesma ortografia encontrada nos jornais originais.

Imagens retiras de arquivo pessoal e de www.wsj.jor.br

* Relatos sobre o Barão encontrados no estudo de Amadeu Beaurepaire Rohan sobre a Irmandade da Penna.

NOTÍCIA 1
A IRMANDADE DA PENNA PROMOVERÁ GRANDES HOMENAGENS

     A cidade prestará em outubro de 1939, excepcionaes homenagens á memória excelsa do barão da Taquara, commemorando o seu centenário.
     Figura de marcante projecção, tendo prestado grandes serviços ao paiz, o barão da Taquara que teve como berço a terra carioca foi um grande coração ligando o seu nome a obras de vulto, principalmente no sector da assistencia. Progressista notável, emprestou sua cooperação aos grandes empreendimentos de sua época.            
     Fundou varias instituições, inclusive o Jockey Club Brasileiro. A Irmandade da Penna, contou sempre com a sua inexcedível dedicação, sendo o seu maior benemerito.
     A significativa data registrar-se-á em 25 de outubro próximo. Será brilhantemente solennizada pela iniciativa opportuna da Irmandade de Nossa Senhora da Penna, que acaba de reunir-se para approvar a proposta do sr. Adalberto Gardel subscripta por toda administração decorrendo os debates com vivo enthusiasmo sob a presidência do sr. Manoel Ventura, juiz da Irmandade.
     A cerimônia dividir-se-á em tres partes: religiosa, regional, onde tomará parte toda a população de Jacarépaguá, e a terceira, cívica. Será erigida uma herma, na Praça Barão da Taquara executada pelo professor Benevenuto Berna. Outros actos estão sendo estudados inclusive a publicação da monographia sobre a vida do barão da Taquara suggerida pelo sr. Henrique Gigante, que lembrou o nome do dr. Noronha Santos, a maior autoridade historica da cidade.
     Ficou assentado, constituir-se uma commissão para elaborar o programma que será composta dos senhores Adalberto Gardel, Onofre de Oliveira, drs. Ernani Cardoso e Pádua de Vasconcellos e do professor Ariosto Berna. A commissão será presidida pelo sr. Prefeito.
     Tambem deliberou-se communicar á baroneza da Taquara, aos seus filhos e demais parentes do saudoso brasileiro participando a vontade da Irmandade da Penna de prestar expressivas homenagens ao barão da Taquara a quem tanto deve a nossa metropole. Aceitou-se ainda o offerecimento do Centro Carioca, para reunião da Commissão que homenageará á memoria do barão da Taquara.

Fonte: Jornal do Commercio
22/10/1939

Notícia 2
CENTENÁRIO DO BARÃO DA TAQUARA

     Realiza-se hoje, a ultima commemoração do centenário do nascimento do barão da Taquara, que alcaçam brilhantismo invulgar.
     Encerra-se a serie de cerimônias com a acto da inauguração do seu monumento, erigido em Jácarepaguá, presidindo-o o sr. Prefeito Henrique Dodsworth, com a presença das demais altas autoridades. O Corpo Orpheonico das Escolas Municipaes, sob a batuta do Maestro Villas Lobo, cantarão o Hymno Brasileiro e canções Patrióticas, devendo comparecer 600 alumnos das Escolas Honduras, Azevedo Junior e Parana.               
     Tambem o Gymnasio Arte e Instrucção se fará representar por 300 alumnos. O Collegio Souza Marques montará guarda de honra, com 50 alumnos em uniforme de gala. Participarão da solenidade, delegações dos Collegios Ávila, Pedro II, do Tiro de Guerra n. 249 e do Centro Carioca. O monumento é uma concepção do Artista, Professor Benevenuto Berna que agrada pela originalidade e perfeição technica.
     A baroneza da Taquara e todos os membros de sua família comparecerão á festividade. Falarão, offertando o monumento a cidade, o Dr. Gurgel do Amaral, presidente da grande commissão, em nome do Centro Carioca o Dr. João Pedro Leão de Aquino e pela Irmandade de Nossa Senhora da Penna, o Capitão Nelson Barros Vieira do Couto. Todos os discursos serão irradiados pela Radio Municipal.
     Varias instituições participarão do jubilo de Jacarepaguá, immortalisando no bronze, o seu maior bemfeitor, o Barão da Taquara.
     A Grande Commissão do Centenário do Barão da Taquara, por nosso intermédio dirigiu um appelo á população para associar-se ás homenagens, comparecendo ao acto inaugural do monumento.
     O Sr. Dr. Pio Borges, Secretario de Educação e Cultura, assossiando-se ás commemorações, determinou o comparecimento do Corpo Opheonico das Escolas Municipaes, sob a regência do Maestro Villas Lobo, e que o Coronel Lima Camara, Director do Departamento de Ensino, baixasse uma portaria denominando Barão da Taquara, a escola municipal situado, em Cafunda.

Fonte: Jornal do Commercio
29/10/1939


Heluana Macêdo
Pesquisadora/ IHJa















quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A Igreja da Penna


Nossa Senhora da Penna – Padroeira dos Intelectuais, das Artes e Ciências e da Imprensa



Por que Penna?

É a representação de Nossa Senhora, porém, num penhasco, por isso Penna (oriunda de Penha, segundo grafia antiga).

Histórico da Igreja
     A Igreja de Nossa Senhora da Penna é envolta em mistérios...Existem duas formas de “se contar”a fundação da igreja, uma pautada na história e outra pautada numa lenda. Vamos contar primeiro a estória pautada na lenda, depois vamos à história...

     Um senhor de engenho, cruel com os seus escravos, mandou um escravo ir logo cedo levar o rebanho ao pasto. O escravo então fez o que o seu senhor mandou, mas, quando foi recolher o gado sentiu falta de uma vaca.
     Amedrontado, por saber que se voltasse à fazenda sem a vaca que faltava, sofreria severos castigos do feitor e do seu senhor. Esses castigos eram o tronco, a palmatória, o vergalho...
     Com muito medo, o escravo atirou-se por terra, se pôs de joelhos e começou a rezar para Nossa Senhora pedindo para encontrar o gado que faltava, pois, se voltasse à fazenda sem a vaca, sofreria muitos castigos...
     Depois de tanto rezar e chorar, o escravo se distraiu e olhou para o alto de uma montanha que existia na fazenda e, embaixo de uma grande árvore se encontrava uma senhora muito bonita e bem vestida, com um belo vestido azul e branco. A senhora acenou ao escravo com a mão pedindo que ele subisse para falar com ela.
     O escravo não acreditava no que via e por conhecer aquelas terras sabia que não existia a possibilidade de alguém subir à montanha sem se sujar, machucar e sem rasgar as suas vestes. Amedrontado, por pensar ser um fantasma, o escravo não subiu. Entretanto, num momento, encheu-se de coragem e subiu à montanha, mas mesmo com essa coragem, sentia muito medo, subindo a passos lentos.
     Quando enfim chegou à montanha, a bela senhora sumiu do local e aonde estava, embaixo da grande árvore, se encontrava a vaca que o escravo havia perdido. O senhor viu tudo de onde estava e, impressionado com o que vira e arrependido das maldades que cometia para com os seus escravos, mandou erigir no local do milagre uma capela, sob a invocação de Nossa Senhora da Penna.
     Depois do milagre, o senhor que era bastante cruel com os seus escravos, passou a tratá-los de maneira melhor, mais humana. Após esse milagre e após a construção da capela, Nossa Senhora da Penna apareceu mais três vezes embaixo da árvore. Depois, Nossa Senhora nunca mais apareceu para os freqüentadores da capela.

Fonte: Relato recolhido de antigos moradores de Jacarepaguá em 1946 por Amadeu Beaurepaire Rohan, para a realização de seu estudo sobre a Irmandade de Nossa Senhora da Penna.


A História da fundação
     Antes de ser criada a Freguesia de Jacarepaguá, Jacarepaguá pertencia à Freguesia de Nossa Senhora da Apresentação de Irajá, criada por Provisão de 30/11/1644 e confirmada por Alvará Régio em 10/02/1647.
     Como Jacarepaguá a essa época possuía engenhos e pessoas que viviam desses engenhos, tornava-se difícil a condução do Santo Viático para atender aos enfermos. Diante dessa dificuldade, o Prelado Dr. Manoel de Souza e Almada criou a Paróquia de Jacarepaguá sob invocação de Nossa Senhora do Loreto e Santo Antônio.
     Para a construção da Paróquia, o Capitão Rodrigo da Veiga e sua esposa doaram um pedaço de suas terras ao Padre Manoel de Araújo. O local dessas terras era conhecido como Porta d’Água.

Em Memórias Históricas do Rio de Janeiro, de 1808, assim pode-se encontrar a descrição sobre a ereção da Ermida de Nossa Senhora da Penna:
     A Igreja da Penna, situada em um penedo elevado, segundo consta no Santuário Mariano, Tomo 10 Livro 3º, Título 41, foi edificada pelo Padre Manoel de Araujo, clérigo autorizado, ou por um ermitão, devotíssimo de Nossa Senhora e de vida muito exemplar, mas cujo nome se ignora.
     Junto ao lugar de Jacarepaguá, se vê um monte muito alevantado e na área que se faz seu cume, se vê o Santuário de Nossa Senhora da Penna. É esta santa de grande devoção, aonde se vêem todos os dias muitas romagens. E o sítio em si sem embargo de ser muito eminente e elevado; está convidado, para ser buscado, porque é muito alegre e vistoso, pelos muitos horizontes, que mostra de mar e terra.
     Nesta Casa se vê colocada a Soberana Rainha dos Anjos, é esta Virgem muito pequena e é de vestidos e está colocada no Altar-Mór de sua Ermida. Tem um ermitão muito devoto que tem cuidado de seu altar e do seu ornato.
     Obra esta senhora muitos milagres e maravilhas e assim é freqüentada a sua Casa de romagens não só dos moradores circunvizinhos, mas dos muitos distantes, e ainda dos do Rio de Janeiro, todos vão a impetrar da senhora o remédio de seus trabalhos e necessidades, e as paredes daquela Casa estão dando testemunho de suas maravilhas, nas memórias que se vêem perder, como são mortalhas, quadros e muitos outros sinais de cêra e outros desta qualidade estão pregoando o poder da Rainha dos Anjos.
     Fundou esta Casa naquele alegre e notável sítio o Padre Manoel Araújo, que foi o mesmo que fundou a Igreja de Nossa Senhora do Loreto no mesmo lugar de Jacarepaguá. Este devoto clérigo era devotíssimo da Mãe de Deus, e bem podia ser que de Lisboa levasse esta imagem para o Rio de Janeiro, e que na viagem lhe fizesse alguns milagres por cuja causa lhe dedicaria aquele Santuário naquele tão notável sítio ao qual a Senhora enobrece com muitas e notáveis maravilhas.
     Deste virtuoso clérigo se diz que era grande letrado e que fora Vigário Geral no Bispado do Rio de Janeiro e bem se pode crer, que a Senhora lhe fizesse muitos favores, pois tanto A desejava servir que lhe dedicou duas Casas. Não nos constam o dia em que lhe faz a sua festa que lhe farão os seus devotos, e terá mordomos que A servirão com fervorosa devoção. Da Senhora da Penna faz menção o Reverendíssimo Padre Frei Miguel de São Francisco no ano de 1723.

A visita de 1737 – Visitador Padre Gaspar Gonçalves de Araújo
     Foi uma das desmembradas de Irajá, não consta verdadeiramente o ano, mas, por um assentamento antigo feito em um livro particular de Memória de Paulo Ferreira de Souza, avô do reverendo Vigário Atual, Padre Antônio de Souza Moreira, consta que no ano de 1664 se erigiu a Igreja Matriz na fazenda do Padre Manoel de Araújo, e que na benção da dita Igreja assistiram o Prelado Manoel de Souza e Almada, o Governador Pedro de Melo e o Provedor Diogo Corrêa. Não constando por esta memória o ano em que foi desmembrada, e principiou paroquiação privada em Jacarepaguá, sabe-se contudo pela memória escrita a fls. 1 do Livro de Batismo, que o Prelado Almada criara no dia 06/03/1661 a Freguesia, dedicada a Nossa Senhora do Loreto e Santo Antônio. Em sítio pouco distante da primeira Igreja onde se descobre ainda vestígios de sua existência, levantaram os fregueses a que subsiste com paredes de pedra e cal, dando-lhe 87 palmos de comprimento, desde a parte principal até o arco, e de 41 de largura, e Dalí até o fundo da Capela-Mór e 59 de comprimento em 32 de largo.

* Em nenhum momento este texto teve a intenção de promover a religião católica, e sim esclarecer a fundação de um dos patrimônios materiais existentes na região de Jacarepaguá.

Fonte: As sesmarias de Jacarepaguá e Memórias Históricas do Rio de Janeiro.

Heluana Macêdo
Pesquisadora IHJa